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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

OS EFEITOS DO EXORCISMO - Por GABRIELE AMORTH

Se a pessoa tinha negatividades, quer estas se tenham manifestado de maneira específica ou não durante o exorcismo, muitas vezes sente imediatamente os benefícios.

Geralmente não se repara em que dia é que o exorcismo foi praticado: pode produzir sensações de bem-estar ou mal-estar, atordoamento ou sonolência, aparecimento de desmaio ou desaparecimento de dores; nada disto tem importância.



O que é importante é avaliar as conseqüências do exorcismo a partir do dia seguinte. Em certos caso o doente fica mal durante um ou dois dias, depois o seu estado melhorara por algum tempo; geralmente sente repentinamente um bem estar que pode durar alguns dias ou até bastante tempo, segundo a gravidade do mal.

Se um individuo não mostra nenhum sinal de negatividade durante a benção e não observa nenhum efeito posteriormente, isso significa, na maioria dos casos, que não há a mínima negatividade; a origem dos seus problemas é outra. Mas o exorcista pode convidá-lo a receber outra benção se tem razões para suspeitar que o demônio está a tentar passar despercebido.



Além disso, é interessante notar o que se passa durante as bênçãos seguintes, tanto no que se refere ao comportamento do paciente no momento do exorcismo, como no que se refere às conseqüências dele. Pode acontecer por vezes que a influência maléfica, depois da primeira intervenção, já tenha mostrado toda a sua força. Assiste-se então a uma progressiva diminuição dos fenômenos.



Noutros casos, pelo contrário, é como se a perturbação maléfica se tentasse esconder e não aparecesse em toda a sua extensão senão a pouco e pouco; a seguir inicia-se a fase de regressão.

Lembro-me por exemplo de um adolescente que, durante o primeiro exorcismo, só tinha dado pequenos sinais de negatividade; no segundo exorcismo começou a urrar e a agitar-se. Embora este caso tenha sido mais sério do que muitos outros foram suficientes alguns meses de exorcismos para a libertação.



A colaboração do paciente tem um papel fundamental no sucesso do exorcismo. Costumo dizer que o efeito dos exorcismos influi 10% sobre o mal; os outros 90% têm a ver com o interessado.



Como é isso? Com muita oração, com a freqüência aos sacramentos, com uma vida conforme às leis do Evangelho, com o uso dos sacramentais (falaremos mais tarde da água, do óleo e do sal exorcizados) fazendo com que outros rezem (as orações de toda uma família, duma comunidade paroquial ou religiosa, os grupos de oração, etc. são verdadeiramente eficazes) e mandando celebrar missas.



As peregrinações e as obras de caridade também são muito úteis. Mas, antes de tudo, é preciso que o próprio reze com fervor e estabeleça uma relação íntima com Deus, de forma que a oração se torne habitual. Contatando muitas vezes com pessoas pouco familiarizadas com as práticas religiosas, verifiquei ser extremamente eficaz integrá-las ativamente na paróquia ou num grupo de oração particularmente nos do Renovamento.



A fim de demonstrar esta necessidade de colaboração, muitas vezes faço a comparação com a droga: trata-se de uma situação completamente diferente, mas que toda a gente conhece bem. Toda a gente sabe que um drogado se pode curar, mas com duas condições: é preciso ajudá-lo (inserindo-o numa comunidade terapêutica, ou de outra forma) porque sozinho não o faz; por outro lado ele deve colaborar ativamente, com o seu esforço pessoal, sem o qual qualquer ajuda é inútil.



No caso que nos interessa, a ajuda pessoal é dada pelos meios que mencionamos. E, se os frutos diretos do exorcismo, isto é, a libertação, são excessivamente lenta em contrapartida já assisti a conversões rápidas; famílias inteiras empenhadas numa prática cristã vivida de forma intensa, e reunidas numa oração em conjunto (muitas vezes o terço).

Vi obstáculos à cura serem ultrapassados com uma enorme generosidade: por vezes o obstáculo tratava-se de uma situação matrimonial irregular; outras vezes o impedimento vinha da incapacidade de perdoar certas injustiças ou de conseguir reconciliar-se com as pessoas, na maioria dos casos parentes próximos com os quais todo o contato se havia cortado.



Convém chamar a atenção para o que constitui um dos preceitos evangélicos mais duros, e daí também a sua eficácia: o perdão concedido aos inimigos. No caso presente os inimigos são na maior parte das vezes aqueles que fizeram o malefício e que em alguns casos ainda o continuam a fazer. Um perdão sincero, uma oração por eles e a celebração de missas em seu favor, foram os meios que já permitiram desbloquear uma situação e acelerar a cura.



Citemos, entre os efeitos do exorcismo, a cura de males e de doenças muitas vezes consideradas incuráveis. Pode-se tratar de dores inexplicáveis, afetando diversas parte do corpo (especialmente, repetimos, a cabeça e o estômago), mas também doenças específicas diagnosticadas com precisão pelos médicos mas não curadas, ou declaradas incuráveis por estes.



O demônio tem este poder de provocar doenças. O Evangelho fala-nos de uma mulher que o demônio trazia encurvada já há dezoito anos (deformação da coluna vertebral); Jesus cura-a expulsando o demônio tal como cura um surdo mudo reduzido a esse triste estado por um malefício. Em várias ocasiões Jesus cura pessoas que ficaram surdas e mudas por presenças maléficas. O Evangelho distingue com muita precisão os doentes dos possessos, mesmo quando certas conseqüências possam parecer idênticas.



Quais os doentes mais graves?

Quais os mais difíceis de curar?



Sei por experiência que são os que foram vítimas de bruxedos particularmente graves. Lembro-me por exemplo de vários casos de pessoas que tinham sido vítimas de feitiçaria no Brasil (a chamada macumba): dei bênção a outros a quem os feiticeiros africanos tinham feito feitiços. Todos casos excessivamente complexos.

Não esquecer os feitiços que visam famílias inteiras para as destruir; por vezes é se confrontado com situações tão complicadas que nem se sabe por onde começar. Às pessoas a quem periodicamente fazem novos feitiços também a cura se torna mais morosa: o exorcismo é mais forte que a feitiçaria, e embora a cura forçosamente se verifique um dia, pode ser retardada durante muito tempo.



Quem são os mais atingidos?



Eu responderia sem hesitação: os jovens. Basta pensar nas causas culpáveis que indicamos como ocasiões que se oferecem ao demônio para poder interferir numa pessoa, e veremos como hoje, com a falta de fé e de idéias, os jovens são os mais expostos a “experiências” desastrosas.

Mesmo as crianças correm grandes riscos, não por culpa própria, mas por causa da sua fragilidade. Quantas vezes, ao exorcizar pessoas de meia idade, vimos a descobrir que a presença demoníaca remonta à sua primeira infância, por vezes ao momento do nascimento, ou mesmo antes, durante a gestação.



Várias vezes me fizeram notar que me procuram mais mulheres do que homens para receber benções. E acontece o mesmo com todos os exorcistas. Não se deve concluir daí que a mulher esteja mais exposta aos ataques do Maligno. Homens e mulheres estão igualmente expostos. A verdade é que as mulheres se dispõem muito mais a recorrer às bênçãos dum exorcista. Muitos homens, embora tenham a certeza de estar atingidos, não querem abeirar-se de um padre.

E conheci mais homens do que mulheres que quando lhes foi pedido que mudassem de vida, recusaram. Nunca mais deram sinal de vida, mas estavam perfeitamente conscientes do seu mal. O obstáculo maior residia na passagem da prática dum ateísmo confortável a uma fé vivida, ou duma vida de pecado para uma vida de graça.



Não vou esconder que a cura deste mal requer um compromisso pessoal e uma vida cristã intensa. Creio que é precisamente este um dos motivos porque Deus o permite.

Quantas vezes ouvi os meus pacientes confessar que a sua fé era fraca e a sua vida de oração quase inexistente. Aproximaram-se de Deus dedicando-se muitas vezes mesmo a um apostolado intenso, e vieram a reconhecer que essa aproximação se ficou a dever ao mal que os tinha atingido. Estamos muito mais agarrados a esta terra e a esta vida do que imaginamos; pelo contrário o Senhor vê mais longe e vela pelo nosso bem eterno.



Por seu lado o exorcista, ao dar as bênçãos, não se contentará em incitar o paciente a rezar e a empregar todos os outros meios já falados, mas procurará todos os meios possíveis para intimidar, enfraquecer e aniquilar o demônio. O Ritual preconiza que se insista nas expressões às quais o demônio reage mais (varia, segundo os indivíduos e os dias).



Mas existem também outros procedimentos. Para uns é insuportável ser aspergidos com água benta; outros ficam exasperados com o sopro, que é um meio ao qual se recorre desde a época patrística, como refere Tertuliano; outros ainda não suportam o cheiro do incenso, pelo que é muito inútil usá-lo; finalmente para outros é doloroso o som do órgão, da música sacra, do canto gregoriano. Trata-se de meios auxiliares de que já testamos a eficácia.



E como é que o demônio se comporta durante os exorcismos?



A este respeito acrescentaria uma coisa ao que já foi dito. O demônio sofre e faz sofrer. O sofrimento que ele experimenta durante o exorcismo é qualquer coisa de imaginável. Um dia o Pe. Cândido perguntou a um demônio se havia fogo no inferno, um fogo que queime para o bem; o demônio respondeu-lhe: “Se tu soubesses que fogo tu és para mim, não me farias essa pergunta”. Certamente não se trata de fogo terrestre, provocado pela combustão de matérias inflamáveis. Mas apercebemo-nos que o demônio se queima pelo contato com objetos sagrados como crucifixos, relíquias ou água benta.



Aconteceu-me várias vezes ouvir o demônio reconhecer que sofria mais durante as bênçãos do que no inferno. E quando lhe perguntei: “Neste caso porque não vais para o inferno?” ele respondeu-me: “Porque a mim, só me importa fazer esta pessoa”. Vê-se aqui a verdadeira perfídia diabólica: o demônio sabe que não vai tirar nenhum proveito disso, mas que pelo contrário será castigado com um aumento da sua punição eterna por cada um dos sofrimentos que causa. E apesar disso, embora correndo o risco de perder com isso, não renuncia a fazer o mal pelo único prazer de fazer mal.



Os próprios nomes dos demônios indicam, tal como acontece com os Anjos, a sua função. Os principais demônios têm nomes bíblicos ou transmitidos pela tradição: satanás ou belzebu, lúcifer, amodeu, zabulão... Outros nomes designam mais precisamente a finalidade que se propõem atingir: Destruição, Perdição, Ruína,..., ou simplesmente males específicos: Insônia, Terror, Discórdia, Inveja, Ciúme, Luxúria,...



Quando deixam uma alma, os demônios, na maioria dos casos, são destinados ao inferno, mas também outras vezes mandados para o deserto (vê-se no livro de Tobias, a sorte de asmodeu encadeado no deserto pelo Arcanjo Rafael). Eu obrigo-os sempre a ir aos pés da cruz para receber o destino que Jesus - Cristo, o único Juiz, lhes tem reservado.

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