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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um documento do Vaticano a respeito à demologia.

Não se julgue que só eu é que me apercebi da tontice de certos teólogos. Parece que muitos de entre eles consideram, como um novo “padre da Igreja”, Rudolf Bultmann, que entre outras coisas escreveu: “Não se pode usar a luz elétrica, ouvir rádio ou recorrer, em casos de doença, às últimas descobertas médicas e clínicas e ao mesmo tempo acreditar no mundo dos espíritos e dos milagres tal como nos é proposto, pelo Novo Testamento” (Nuovo Testamento e Mitologia, Queriniana 1969, pág. 110).



Considerar o progresso técnico como uma prova inegável de que a Palavra de Deus está ultrapassada, significa, simplesmente, enlouquecer. Entretanto muitos teólogos e especialistas da Bíblia julgam “estar fora de moda” se não seguem estas diretivas. É interessante uma estatística apresentada no livro de Lehmann, que já citamos noutra ocasião, uma estatística sobre os teólogos católicos: dois terços aceitam, em teoria, os dados tradicionais relativos ao demônio, mas recusam-nos quando são aplicados à prática pastoral; por outras palavras, não se querem opor formalmente à Igreja mas, na prática, não aceitam os ensinamentos (pág. 115).



Também é interessante um outro ponto posto em relevo na estatística: os teólogos católicos demonstram ter um conhecimento muito superficial sobre a possessão diabólica e sobre exorcismos (pág. 27). Eu também sempre afirmei este fato.

Consciente desta situação, a Congregação para a Doutrina da Fé submeteu esta questão a um especialista e publicou um artigo no Osservatore Romano de 26 de Junho de 1975 sob o título: “Fé Cristã e demonologia”; este estudo foi seguidamente inserido entre os documentos oficiais da Santa Fé (Enchiridion Vaticanum, Vol. V, nº38), de que retiramos alguns extratos.



O seu objetivo principal é instruir os fiéis e, sobretudo os teólogos desviados, que evitam a existência de satanás nos seus estudos e ensinamentos; apesar de que Cristo “desceu do céu e encarnou para destruir a obra do demônio” (1 Jo 3,5). Suprimindo a existência do demônio, destruímos a redenção; quem não acredita no demônio, não acredita no Evangelho.



“Ao longo de toda a sua história, a Igreja sempre reprovou as diferentes formas de superstição, a preocupação excessiva com satanás e os demônios, com os diversos tipos de culto e de apego mórbido a estes espíritos.



Seria portanto injusto afirmar que o cristianismo, esquecendo o poder universal de Cristo, tivesse feito de satanás o objeto preferido da sua pregação, transformando a Boa Nova do Senhor ressuscitado numa mensagem de terror... Mas, na realidade, seria um erro funesto comportarmo-nos como se, considerando a questão já resolvida, a redenção tivesse tido todos os seus efeitos sem que houvesse mais necessidade de nos empenharmos na luta que nos fala o Novo Testamento e os mestres da vida espiritual...

A maior parte das vezes a existência (de satanás) é abertamente posta em dúvida. Alguns críticos pensam poder mesmo identificar a posição de Jesus, pretendendo que nenhuma das Suas palavras teriam garantido a realidade do mundo demoníaco, pois a afirmação da sua existência quando se refere a ele, refletiria mais as idéias dos escritos judaicos ou fundamentar-se-ia na tradição neo-testamentária e não em Cristo; uma vez que a existência de satanás não faria parte da mensagem evangélica central, já não comprometeria a nossa fé hoje e ficaríamos livres de a pôr de parte.

Outros críticos mais objetivos e radicais, aceitam as afirmações das Sagradas Escrituras no que se refere aos demônios no que elas têm evidentemente; mas apressam-se a acrescentar que, no mundo de hoje, isso não seria aceitável nem para os próprios cristãos. Por conseguinte, também eles a rejeitam.



Por fim, aos olhos de alguns, a noção de Satanás, qualquer que seja a sua origem, não tem nenhuma importância: defendendo esta idéia, o nosso ensinamento, segundo eles, perderia credito e faria sombra ao discurso sobre Deus, único que merece o nosso interesse.

Todos eles pensam, no fim de contas, que os nomes de Satanás e de diabo não passam de personificações míticas e funcionais, unicamente destinadas a sublinhar, de maneira dramática, a influência do mal e do pecado sobre a humanidade. Pura questão de linguagem que, segundo eles, na nossa época deveria ser decifrada, a fim de encontrar uma outra forma de inculcar nos cristãos o dever de lutar contra todas as forças do mal e do mundo.

Estas tomadas de posição, repetidas com presunção de serem eruditas, e divulgadas em revistas assim como em certos dicionários teológicos não podem deixar de perturbar os espíritos: os fiéis acostumados a levar a sério as advertências de Cristo e dos escritos apostólicos, têm a impressão de que os discursos deste gênero pretendem, neste campo, imprimir uma mudança na opinião publica e aqueles, entre eles, que tem conhecimento de ciências bíblicas e religiosas, perguntam-se até onde é que irá este processo de desmistificação posto a correr em nome duma certa hermenêutica...

Também as principais curas de possessos foram efetuadas por Cristo nos momentos considerados decisivos nos relatos do seu ministério. Os seus exorcismos apoiavam e orientavam o problema da Sua missão e da Sua pessoa, como amplamente comprovam as reações que suscitavam. Sem nunca colocar Satanás no centro do seu Evangelho, Jesus falou dele unicamente nos momentos evidentemente cruciais e com declarações importantes.


Antes de tudo deu início ao Seu ministério público, aceitando ser tentado pelo diabo no deserto: o relato de Marcos, apesar da sua sobriedade é decisivo comparativamente ao de Mateus e de Lucas. É contra este adversário que Cristo nos põe de sobreaviso no discurso da montanha e na oração que ensinou aos seus discípulos, o Pai Nosso, como reconhecem hoje numerosos exegetas, apoiados no testemunho de muitas liturgias.

O Apocalipse é, sobretudo, o quadro grandioso em que resplandece o poder de Cristo ressuscitado nos testemunhos do Seu Evangelho: proclama o triunfo do Cordeiro imolado; mas, seria um engano completo sobre a natureza desta vitória, se não se entrevisse o fim de uma grande luta em que intervêm, através dos poderes humanos que se opõem ao Senhor Jesus, Satanás e os seus anjos, distinguindo-se uns em relação aos outros pura e simplesmente como seus agentes históricos.

É na verdade o Apocalipse que, sublinhando o enigma dos diferentes nomes e símbolos de Satanás na Sagrada Escritura, desmascara definitivamente a sua identidade. A sua ação desenrola-se em todos os séculos da história humana sob o olhar de Deus.

Evidentemente, a maioria dos padres, abandonando com Orígenes a idéia de um pecado carnal cometido pelos anjos caídos, viram, no orgulho – que é o desejo de se elevar acima da sua condição, de afirmar a sua independência, de se julgar Deus – o princípio da queda; mas, a par deste orgulho, muitos sublinharam também a sua malvadez nos confrontos com o homem.


Segundo Sto. Ireneu, a apostasia do diabo teria começado quando ele teve inveja da criação do homem e o tentou levar a rebelar-se contra o seu Criador.

Segundo Tertuliano, Satanás, a fim de macaquear o projeto do Senhor, teria imitado nos ministérios pagãos os sacramentos instituídos por Cristo.

O ensinamento patrístico faz eco, portanto, de maneira substancialmente fiel, da doutrina e das orientações do Novo Testamento.

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